Pacientes de oncologia e hematologia internados em estado grave e submetidos a tratamento paliativo no Hospital das Clínicas da Unicamp têm um pedido em comum: lanches do McDonald’s.Segundo a Folha, profissionais que trabalham na unidade relatam que, nesta fase mais crítica do tratamento, as pessoas internadas solicitam aos familiares uma alimentação diferente da oferecida pelo hospital como um “grand finale para o processo da vida”. Uma delas, a enfermeira Ellen Recco, que há sete anos cuida de pessoas com diagnóstico de linfoma e leucemia, diz que pacientes com menos de 50 anos são os que mais solicitam fast-food.Apesar de não ter dados oficiais sobre o assunto, ela diz que o combo batata frita, refrigerante e hambúrguer é o mais comum.”Nessa faixa etária eles focam em comida e solicitar McDonald’s é muito frequente. Há casos em que assim que acabam de comer o lanche, [os pacientes mais debilitados] já entram naquela fase final. Então, essa acaba sendo a última refeição de muita gente”, afirma Ellen.Ela relata que já se deparou com pacientes que levavam uma vida saudável antes de adoecerem, mas que ao entrarem nas semanas finais de vida, optaram pelo mesmo pedido.Outra profissional de saúde lotada em uma unidade de cuidados paliativos, a psicóloga Karen Bisconcini argumenta que pessoas que não consumiam determinados alimentos por fazerem mal ao longo da vida mudam o pensamento quando percebem que a saúde está afetada irreversivelmente.”Acredito que nesses casos exista uma pressa, uma urgência de fazer aquilo que não foi feito antes”, diz Karen, que trabalha no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Pacientes mais velhos costumam optar por uma alimentação que remeta a lembranças da família. “Um ou outro até pede um lanche, mas vejo que preferem a comida de casa ou então nem se importam com a parte alimentar. Eles querem ver pessoas, tanto que alguns até param de comer”, diz Ellen. À reportagem, Roberta Antoneli Fonseca, enfermeira do núcleo de cuidados paliativos da Unicamp e membro da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), afirma que parte dos pacientes com doenças graves, sem chances de cura, não costuma sentir fome, mas ainda assim desejam os alimentos.Na Unicamp, as nutricionistas providenciam, por conta própria, geladinhos para oferecer aos pacientes que não podem comprar, assim como se reúnem para oferecer refeições diferentes da que o hospital oferece em casos em que a família não pode proporcionar. “Sempre alguém da enfermagem compra uma coisa ou outra. Uma vez, uma equipe médica pediu um delivery para um paciente e ele morreu antes que o pedido chegasse”, diz a enfermeira Ellen. Algumas descobertas foram possíveis a partir desse acompanhamento. A nutricionista e especialista em cuidados paliativos Tamyris Gonçalves acredita que os pedidos dos pacientes estão muito relacionados ao modo de vida e hábitos destas pessoas. Já a psicóloga Karen reforça que a alimentação do paciente nessa fase da vida, por mais que ele não tenha fome, está relacionada à ideia de afeto.Algumas técnicas de nutrição também foram desenvolvidas para facilitar o acesso do paciente com mais restrições, como os que usam sondas, à comida desejada.